27.05.21

Conferência de Paris: ainda haverá punições?

Até agora, a única sanção para os países da Tríplice Entente foi o banimento e a destruição das armas químicas.

Conferência de Paris: ainda haverá punições?

Por: Ana Cecilia de Almeida Pinheiro

Na Conferência de Paris os países que participaram da Grande Guerra discutiram a criação de um Banco da Liga das Nações para a manutenção dos territórios prejudicados pelo conflito. Além disso, acordou-se que a delegação alemã terá seu armamento químico destruído, respeitando a decisão de banimento do uso de armas químicas pelas nações participantes.

Após o final da Grande Guerra no ano anterior, em 1918, a Conferência de Paris, realizada no dia 19 de junho de 1919, teve como objetivo discutir o futuro dos países envolvidos. Dentre eles, estavam presentes as delegações da França, Itália, Rússia, Alemanha, Reino Unido, Japão, Império Austro-Húngaro e dos Estados Unidos.

A reunião teve início com a parcela majoritária das delegações propondo o encerramento da guerra de maneira justa e na criação de alianças e acordos de paz entre os países. O delegado Pedro Vitor Lima, representante da França, exigiu a devolução dos territórios tomados pela Alemanha na Guerra Franco-Prussiana, e solicitou que não houvesse a escolha de culpados pela Grande Guerra. No entanto, a delegação alemã discordou, declarou acreditar em um culpado pelo conflito e não aceitou entregar os locais exigidos pela delegação francesa.

Ivan de Carvalho Moura, delegado da Itália, declarou em seu posicionamento inicial: “A Itália reivindica promessa de domínio sobre território ao sul do império Austro Húngaro, no caso o Trentino, firmada pela tríplice entente no Tratado de Londres (1915), além de alegar direito sobre as terras ao leste do mar Adriático, tal como a Dalmácia, uma vez que previamente essa era uma região que pertencia à República de Veneza, e foi tomada nas guerras napoleônicas”.

O delegado Pedro Jackson, da Rússia, iniciou uma discussão sobre a questão das armas químicas na guerra, propondo um acordo para pôr fim ao seu uso. A delegação da França afirmou que o uso de armas químicas foi apenas como defesa, e reconheceu a grande perda de vidas como consequência, concordando com a delegação russa e com a opinião de outras nações.

Todavia, após a divulgação de fotografias provando o uso de armamento tóxico pela Alemanha no início da guerra, a discussão tomou outro rumo. O delegado Matheus Mossmann, representante alemão, em seu depoimento disse “O Império Alemão estava utilizando tais meios como medida de proteção e como forma de se defender de ataques inimigos, já que todas as nações europeias estavam vindo de uma época de desenvolvimento bélico muito grande, e não se sabia o que ia acontecer durante a guerra”.

As delegações desenvolveram um projeto de resolução dessa crise, determinando a repartição das armas químicas alemãs entre Itália, Alemanha, Japão, França e Rússia, para que houvesse a destruição desse material. Além disso, foi acertado o banimento do uso de armamento químico pelas nações participantes.

As discussões territoriais continuam…

Durante a segunda sessão da Conferência. Vivian Meneses e Cerqueira, delegada do Império Austro-Húngaro, reafirmou que não concordava com o 10° ponto de Wilson, pois não acreditava que a autonomia dos povos austro-húngaros seria benéfica para o Império, ao dificultar o estabelecimento de uma nação unida, tendo apoio da delegação da Alemanha e da delegada Tamires de Lima Pacheco, representante do Japão.

A delegação da Alemanha propôs troca de conhecimentos marítimos para o Reino Unido, que se manteve calado durante a maior parte da segunda sessão. A delegação alemã também sugeriu a devolução das terras de Alsácia e Lorena, em troca da influência sobre a colônia francesa em Marrocos. Pedro Vitor Lima de Macedo, delegado da França, negou o acordo. Paulo Renato Rodrigues de Melo, delegado dos Estados Unidos, posicionou-se contra a proposta ofertada à França, ressaltando o 8° ponto de Wilson e a postura inicial francesa em relação a soberania dos povos. A delegada Isadora Lees Mousinho Nunes, do Reino Unido, finalmente se manifestou no final da sessão, e negou o acordo, alegando representar a nação pioneira no domínio ultramarino.

Nesse momento, o delegado Pedro Jackson, da Rússia, ofereceu ajuda financeira aos países assolados pela guerra, e a delegada do Reino Unido concordou, também oferecendo auxílios e empréstimos. O delegado Matheus Mossmann Carneiro, representante da Alemanha, expôs a ideia da criação de Banco da Liga das Nações, com o objetivo de custear a reparação de danos causados pela guerra. A delegação dos Estados Unidos concordou, porém, alegou que a coordenação do Banco deveria ser realizada pelas nações que tivessem condições financeiras suficiente para isso. A delegação francesa apoiou a postura estadunidense, com a ressalva que todos os países ali presentes mereciam uma voz forte no Banco proposto.

Ao final da conferência, apesar de profícua, ainda ficaram abertos temas como as questões territoriais reivindicadas pelas delegações da Itália, Rússia e França. Ademais, mesmo com a punição de destruição das armas químicas, ainda não foi imposta a Alemanha outras sanções punitivas.

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