24.11.15

Provincial fala sobre jesuítas no Piauí e no mundo

O nosso jesuíta

Por Caroline Oliveira (Reportagem publicada na Revista Cidade Verde)
Antes de um jesuíta comandar a Igreja Católica no mundo, um piauiense coordena a Companhia de Jesus em todo o Nordeste, Espírito Santo e Amazônia.

Piauiense, padre Miguel é responsável pela Companhia de Jesus em 17 estados do Brasil
No dia 13 de março de 2013, o padre jesuíta argentino Jorge Mário Bergoglio chegou ao maior posto da Igreja Católica no mundo, tornando-se o papa Francisco. Exatamente dois anos antes, no dia 13 de março de 2011, um piauiense tomava-se, dentro da Companhia de Jesus, o homem mais importante da ordem jesuíta na maior parte dos Estados brasileiros. O padre jesuíta Miguel de Oliveira Martins Filho, natural de Paulistana, a 450 km de Teresina, foi nomeado o Provincial dos Jesuítas no Brasil Nordeste.
Com 30 anos dedicados à vida religiosa, fazendo parte da Companhia de Jesus, o padre Miguel Martins é, há dois anos, o responsável por coordenara missão dos jesuítas nos nove Estados do Nordeste, sete do Norte, além do Espírito Santo.
“A tarefa principal do Provincial é cuidar para que os jesuítas que estão sob sua responsabilidade vivam e desempenhem bem a sua missão. Essa missão na época de Inácio de Loyola (1540) era traduzida como ‘a maior glória de Deus e a salvação das almas’, hoje pode ser traduzida pelo ‘serviço da fé e a promoção da Justiça! Isso se consegue através do diálogo com os vários fatores sociais. A busca pela verdade do Evangelho, da Igreja, do ser humano sempre em diálogo com o diferente. Talvez isso caracterize bastante os jesuítas”, explicou o padre Miguel Martins.
O piauiense foi nomeado Provincial pelo atual Padre Geral, que mora em Roma, o espanhol Adolfo Nicolás, a quem constantemente envia cartas e relatórios sobre as ações dos jesuítas que estão sob sua responsabilidade, cerca de 180 em toda região. O padre Miguel também é responsável pelas nomeações e transferências dos diretores de colégios, universidade, centros sociais e párocos jesuítas nos 17 Estados.
Segundo o padre Miguel, ele deve ficar por três anos nessa função, podendo ser reconduzido ao cargo por mais três. “Após este período, serei substituído por outro e destinado a outra missão na Companhia, como qualquer jesuíta, pois entre nós não existe esta concepção de carreira ou coisa do gênero. Estamos a serviço da Igreja.”
Companhia de Jesus

Santo Inácio de Loyola foi o fundador da Companhia de Jesus em 1540
A Companhia de Jesus foi fundada por (Santo) Inácio de Loyola, em 1540, dentro da Universidade de Paris, quando Inácio e (São) Francisco Xavier eram companheiros de quarto, começaram a pregar a palavra de Jesus, e resolveram se colocar à disposição do papa para sair em missões pelo mundo. É a primeira ordem religiosa missionária da Igreja Católica “Inácio e seus companheiros começaram a trabalhar na defesa da fé na Europa, por onde a Reforma Protestante estava sendo disseminada; eles eram chamados de exército de Jesus, porque combatiam através da fé e em outra frente atuaram nas grandes navegações, nas expedições pelo Oriente e na América, para evangelizar nas terras colonizadas”, destaca padre Miguel Martins.
O jesuíta explica que a Companhia de Jesus nunca se apresenta como a dona da verdade, e sim aberta ao mundo. Para isso, estuda para se preparar para o diálogo com os diversos setores da sociedade. “Nós formamos o cristão também para viver essa fé, na perspectiva do diálogo, nunca menosprezando ninguém ou tentando doutrinar”, argumenta.
Papa jesuíta
Por conta da formação jesuíta, Martins acredita que Francisco será um papa aberto ao que saberá ouvir e reagir sobre os temas polêmicos que estão se colocando atualmente. Ele compara o momento atual que passa a Igreja com o momento de São Francisco e Santo Inácio de Loyola, no qual a Igreja também passava por turbulências e eles fizeram história.

Papa Francisco é o primeiro da ordem jesuíta a assumir o maior posto da Igreja Católica
“Podemos fazer uma comparação com São Francisco, cujo nome foi escolhido pelo papa Ele viveu em um momento de reforma da Igreja, de reconstrução, de crise, a qual era muito opulenta, com mistura entre o poder temporal e o poder espiritual. Na Igreja dos príncipes e dos reis, Francisco vem com o ges­to profético de pobreza, despojamento, de redescobrir o Evangelho. Depois vem Inácio, que também no momento critico da Contrarreforma, enquanto Calvino e Lutero, que eram religiosos da Igreja Católica, mas resolveram sair para fazer a reforma, Inácio toma uma posição diferente: de não sair da Igreja, mas começar uma reforma a partir de dentro. Nós agora vivemos também um momento de crise e eu acho que ele vai ajudar a Igreja a redescobrir sua vocação, que é de ser uma pre­sença de Deus no mundo. Ele tam­bém vai reformar a cúria, não vai acentuar tanto o poder do Vatica­no como Estado, mas do Vaticano como trono de Pedro e cátedra. Ele tem mais o caráter de Pedro Pesca­dor do que de Constantino impera­dor”, analisa o padre jesuíta.
Em todo o mundo são 18 mil je­suítas, 550 no Brasil, 180 no Nor­deste e 16 no Piauí, onde tomam conta dos colégios Diocesano e Santo Afonso, assim como de pro­jetos e ações sociais.
O colégio São Francisco de Sa­les, o Diocesano, que foi fundado em 1907 por padres diocesanos e passou em 1960 para os jesuí­tas, por solicitação do então ar­cebispo de Teresina, Dom Avelar Brandão Vilela. O colégio possui, atualmente, ensino Infantil Fun­damental, Médio e educação de Jovens e Adultos.
 
História dos jesuítas no Piauí
Os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, na expedição de Tome de Sousa e se espalharam pelo litoral e sertão de dentro. No Piauí, eles estiveram antes mesmos dos colonizadores Domingos longe Velho e Domingos Afonso Mafrense, para catequizar os índios das diferentes tribos que habitavam o território, que antes era um local de passagem entre a Bahia, Pernambuco e Maranhão. O padre Antônio Vieira chegou à região que seria o Piauí pelo litoral no início do século XVII. Aqui foram instalados três aldeamentos. Quando Domingo Afonso Mafrense chegou, ele teve noticia dos jesuítas por essas terras, tanto que doou 30 fazendas que havia neste território para eles. Porém, um ano depois de sua morte, em 1759, os religiosos foram expulsos do Brasil. Caso isso não tivesse acontecido, os jesuítas poderiam ser donos do Piauí. “Eu não acredito nisso, mas teríamos uma influência maior dos jesuítas em nossa cultura, educação. Se os jesuítas não tivessem sido expulsos do Brasil, nós estaríamos falando pelo menos três idiomas, tínhamos a gramática Tupi. Se a gente tivesse ficado aqui, Oeiras e toda região da Ibiapaba seriam núcleos urbanos impressionantes como Recife, Salvador, São Paulo e ate São Luis, por conta dos colégios instalados”, analisa o padre. Após a expulsão em 1759, os Jesuítas só retornaram ao Piauí em 1960, a pedido de Dom Avelar Brandão Vilela, para tomarem de conta do Colégio Diocesano.
Fonte: Revista Cidade Verde

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